É lógico chegamos no sucesso pelos esforços que fazemos. Mas a gente não pode se enganar e achar que os nossos lugares de partida ou de chegada dependem só da nossa livre escolha.Por isso, a ideia de meritocracia tem um problema: ela finge que todo mundo começa a vida no mesmo ponto, como se fosse uma corrida justa.A meritocracia considera que só existe o esforço individual e não leva em conta as estruturas sociais, construídas ao longo da história, que oferecem possibilidades e também impõem muitos limites às condições de vida de cada pessoa.Enquanto alguns já nascem com muitas oportunidades, outros enfrentam dificuldades que vêm de gerações antes deles.
Todos passam perrengues na vida, mas alguns têm mais lugares de conforto e acessos que outras pessoas.A história está cheia de exemplos de como grupos de pessoas foram excluídos e prejudicados por questões raciais, de gênero, etnia, classe social, por conta de seu corpo ou de onde nasceram. Isso criou um sistema geral em que o acesso a coisas importantes, como educação de qualidade ou um bom trabalho, não é igual para todo mundo. É por isso que não dá para falar de sucesso só olhando a vontade ou o esforço de uma pessoa.Reconhecer que existem desigualdades estruturais não é “culpar o mundo” ou fugir das responsabilidades. É sobre entender que algumas pessoas têm mais obstáculos pela forma como a sociedade foi construída ao longo do tempo.
Para combater as desigualdades, existem ações afirmativas e programas de diversidade e inclusão. Essas iniciativas servem para reparar quem foi prejudicado por essas desigualdades históricas, dando mais chances de estudar, trabalhar e conquistar o que é direito de todo mundo.
Não é “dar vantagem” para ninguém, mas corrigir injustiças que perduram intergeracionalmente e institucionalmente. Então, é importante entender que as pessoas não se encontram em situações de vulnerabilidade ou em quadros difíceis porque “não se esforçaram o bastante”.
Muitas vezes, é porque vivem em uma sociedade que já é desigual desde o começo.Por isso, é tão importante que a gente tenha esse letramento sobre como as coisas estão organizadas. Entendendo que os pontos de partida não são iguais (e que não estamos em uma corrida), a gente vai ampliar muito mais a nossa visão sobre o mundo, sobre o nosso próprio lugar no mundo e o que a gente pode fazer com isso.
E a gente vai perceber também que existem muitas pessoas que enxergam que o ponto de partida não é igual para todo mundo e simplesmente não se importam. A gente vai perceber também que, quando elas chegam a algum lugar de poder, podem continuar não se importando e fomentando uma mentalidade de injustiça.
Isso não só atrapalha quem está em situações vulneráveis, mas também contribui para que o sistema discriminatório e desigual continue funcionando ou piore.