Energia feminina e energia masculina

Algumas pessoas já disseram que eu tinha uma certa energia feminina, mas que a minha energia masculina se destacava. No início, eu não entendia muito bem o que isso significava… as pessoas achavam que falar isso era óbvio e natural, mas isso é muito contextual e social e seu significado varia de lugar para lugar. Aos poucos, eu fui percebendo que essas pessoas tinham associado minha assertividade, objetividade, conquistas e decisões, a algo que entendiam como energia masculina ou masculinidade.  para entender melhor isso, eu passei decodificar essa ideia de “energia” como um sinônimo de afeto, conforme espinosa nos ensina. 


Para espinosa, afeto é aquilo que move e nos transforma, ligando mundo interior e mundo exterior, gerando ação ou reação. Ou seja, energia é a forma como somos afetados por algo e, ao mesmo tempo, como afetamos o mundo ao nosso redor. Entao a chamada "energia masculina" não é algo exclusivo de homens, assim como a "energia feminina" não é das mulheres. Essas energias, ou esses afetos,  representam diferentes modos de nos relacionarmos com o mundo: em um momento buscamos conquistas, enquanto a outra se orienta pelo acolhimento e pela criação. Essas são formas de nos movimentarmos e expressarmos em nossa existência, nas experiências que temos pela vida.São práticas ou qualidades que não são limitados na identificação de gênero e podem ser observadas em qualquer pessoa que deseja se desenvolver - ou amadurecer ou passar pelo processo de individuação na sua vida. 


É aquela ideia de ser um adulto funcional com responsabilidade afetiva, sabe?No entanto, vivemos em uma sociedade que insiste em associar determinadas práticas ou comportamentos a uma ideia de masculinidade. E essa ideia  é também associada a um corpo específico. Qualidades como assertividade, ambição e conquista são vistas como "masculinas" e associados ao corpo de um homem cis,geralmente branco e hetero. Já o cuidado, a empatia e a criação são rotulados como "femininos" e ligados a um corpo que seja identificado como de mulher. São ideias e corpos, portanto, valorizados e desvalorizados em um imaginário de desigualdade de gênero; em que homens são ensinados a conquistar e prover; e mulheres são ensinadas a cuidar e esperar.Idolatrando o "masculino" e desvalorizando o "feminino" esse conjunto de significados impõe limites desnecessários e cria desigualdades. 


Essa divisão, além de arbitrária, é limitante e fomenta diversos tipos de repressão, impedindo que homens desenvolvam capacidades de empatia ou apresentem características femininas e nõa aceitando a assertividade de mulheres ou que seu destaque em um detemrinado meio profissional. Por meio da violência, do silenciamento, da ridicularização, e da marginalização, essas ideias limitasntes impedem a gente se desenvolva plenamente.


Cair nesses extremos – apenas conquistar o mundo, sem acolher quem está do lado, ou apenas acolher o outro, sem agir por si e para si – nos desconecta de nossa própria humanidade. Um equilíbrio importante é integrar essas práticas, reconhecendo que elas não são restritas a gêneros.Não se trata de ser "mais masculino" ou "mais feminino". Trata-se de sermos mais de nós mesmas, permitindo que esses afetos fluam em equilíbrio, harmonizando nossas necessidades nas fases das nossas vidas e desenvolvendo habilidades para criar, conquistar e acolher, e vivendo de forma mais plena e integrada.E, sim, uma mulher pode conquistar; e um homem pode acolher. Isso não tira a a sua relevância no mundo e seu valor como pessoas, pelo contrário: torna essa pessoa menos alienada de si mesma.